
Sete a cada dez brasileiros acreditam em informações falsas sobre vacinação
Aproximadamente 67% dos brasileiros acreditam em ao menos uma afirmação imprecisa sobre vacinação. O achado é parte do estudo “As Fake News estão nos deixando doentes?”, feito pela Avaaz em parceria com a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), com o objetivo de investigar a associação entre a desinformação e a queda nas coberturas vacinais verificadas nos últimos anos.
Para chegar ao resultado, as instituições encomendaram ao IBOPE uma pesquisa com cerca de 2 mil pessoas acima de 16 anos, em todos os estados e no Distrito Federal, respeitando as características demográficas do país. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, e o nível de confiança é de 95%.
Nana Queiroz, coordenadora de campanhas da Avaaz, diz:
“O Brasil vive uma epidemia de desinformação sobre vacinas. A discussão sobre a desinformação é sempre permeada por extremos políticos. Mas este não é um problema da esquerda ou da direita: é um problema que une toda a sociedade brasileira, pois estamos falando da saúde daqueles que mais amamos. As grandes plataformas precisam mostrar correções às pessoas expostas a essas desinformações. E se não o fizerem por iniciativa própria, o governo precisa garantir que o façam — é uma questão de saúde pública”.
O trabalho também analisou a atitude em relação à vacinação. A grande maioria (87%) disse nunca ter deixado de se vacinar ou de vacinar uma criança sob seus cuidados. Embora o índice possa parecer bom à primeira vista, quando extrapolamos os 13% de não-vacinantes para toda a população com 16 anos ou mais, ele passa a representar um contingente de mais de 21 milhões de pessoas.
Há, ainda, evidências de que as notícias falsas tenham impactado a decisão de não se vacinar. Entre os que não se vacinaram, 57% relataram pelo menos um motivo considerado como desinformação pelos profissionais da SBIm e pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Os mais comuns, nesta ordem, foram: “não achei a vacina necessária (31%)”; “medo de ter efeitos colaterais graves após tomar uma vacina (24%)”; “medo de contrair a doença que estava tentando prevenir com a vacina (18%)”; “por causa das notícias, histórias ou alertas que li online (9%) e “por causa dos alertas, notícias e histórias de líderes religiosos” (4%).
“O que os números demonstram é a falta de conhecimento prévio para fazer um julgamento adequado do que é correto e incorreto. Precisamos — profissionais da saúde, sociedades de especialidade e autoridades — ter a mesma disponibilidade para ensinar e esclarecer do que a demonstrada por quem dissemina inverdades. Se não nos empenharmos, é possível vislumbrar um cenário perigoso. O retorno do sarampo já demonstrou isso”, afirma o presidente da SBIm, Juarez Cunha.
Mídias sociais
Foi pedido aos entrevistados que apontassem até três fontes de informação nas quais mais veem ou ouvem informações sobre vacinas. A mídia tradicional, que inclui televisão, rádio, jornais e sites de notícias da grande imprensa, foi a mais mencionada (68%). Mas em segundo lugar estavam as redes sociais, como o Facebook, YouTube, Instagram, além do WhatsApp e demais aplicativos de mensagens instantâneas (48%) — essas fontes se mostraram mais recorrentes que o Ministério da Saúde ou médicos, por exemplo, que aparecem em quarto e quinto lugar respectivamente.
O impacto exato das mídias sociais e aplicativos é complexo, tendo em vista que conversas entre amigos e familiares — eventualmente pautadas por fake news — constam na lista de principais fontes. Mas chama a atenção o fato de que, em todos os aspectos aferidos pelo estudo, as atitudes e percepções negativas, bem como a desinformação, foram mais comuns entre os que citaram as plataformas como fonte de informação sobre vacinas.
Entrevistados | Citam redes sociais e WhatsAPP | Não citam | População geral |
---|---|---|---|
Acreditam em informações imprecisas | 73% | 60% | 67% |
Deixaram de se vacinar por informações imprecisas | 60% | 40% | 57% |
Consideram as vacinas totalmente seguras | 49% | 58% | 54% |
Sentem algum nível de insegurança | 51% | 39% | 45% |
Outro ponto investigado foi a frequência com que os brasileiros têm contato com conteúdos contrários à vacinação nas redes sociais. Aproximadamente 38% dos que responderam à pesquisa disseram receber mensagens negativas com alguma regularidade, ao passo que 59% responderam que raramente recebem ou nunca receberam.
O prejuízo no que diz respeito à visão sobre as vacinas é claro: 72% dos que acreditam que as vacinas são parcialmente inseguras e 59% daqueles que pensam que as vacinas são totalmente inseguras afirmaram que já receberam notícias negativas sobre elas em suas redes sociais e serviços de mensagens.
É importante destacar que os profissionais de saúde e Ministério da Saúde/governo têm um papel relevante ao inspirar confiança nas vacinas. Pessoas que os têm como referência mostram-se mais seguras, ainda que tenham contato com fake news. As categorias, no entanto, ocupam apenas o quarto e o quinto lugar na lista de fontes de informação, respectivamente.
“A vacinação é uma atividade de extrema importância para a saúde pública, portanto o governo deve se esmerar para manter as equipes atualizadas. É fundamental que os profissionais da saúde estejam preparados para responder rapidamente às dúvidas da população diante de situações que não têm o menor embasamento científico”, avalia a vice-presidente da SBIm, Isabella Ballalai. “Além disso, é necessário falar mais sobre vacinação. Em geral, médicos que não tratam crianças demonstram certa resistência. Alegam falta de tempo ou outras prioridades. Perdemos inúmeras oportunidades dessa forma”, lamenta.